sábado, 30 de maio de 2015

GENTILEZA É A GENTE DEIXAR O OUTRO SER DE CARNE E OSSO!

Gentileza gera gentileza.
Pois é, mas acho que ser gentil não é ser bem educado, ser gentil é ser bem humano.
Não é gentil quem age de mal grado com um sorriso no rosto, quem demonstra curiosidade por uma história enorme narrada por um amigo bocejando por dentro, quem responde uma mensagem na madrugada só por educação. Gentileza não é só tratar as pessoas com sorrisos e ‘sins’ e evitar conflitos e evitar desacordos.
E esconder verdades quando estas forem duras de dizer. Gentileza é mostrar verdades com jeitinho, é dizer não, é mostrar falta de interesse, é fazer cara de cansaço e desanimo, é pedir licença e mostrar as cartas com delicadeza, é pedir pra sair. E tratar com cuidado a delicadeza do outro. A maior gentileza que alguém pode oferecer é a transparência.
É a humildade de dizer a verdade. Ser gentil é perder o profissionalismo quando preciso e deixar transparecer o corpo e a mente cansados e pedir a gentileza dos outros para te dar espaço hoje para ser de carne e osso. Gentileza é a gente deixar o outro ser de carne e osso. Gentileza é calor humano. É uma alma esquentando a outra através do olhar.
Sorrisos artificiais, comentários ensaiados, frases decoradas, preocupações encenadas não aliviam nada, não são gentis. A gentileza pode estar num olhar cansado, num afastamento na falta de sentimento, numa mão que não se deu, num passo atrás, numa ausência. A gentileza pode ser uma conversa curta, uma coragem de dizer não, a coragem de tocar em assuntos delicados.
Ser gentil é tocar em assuntos delicados com delicadeza, ser gentil é machucar avisando que vai doer um pouquinho, é destruir sentimentos, mas de preferencia com um tiro só, certeiro, é desligar o aparelho de palavra doces e educadas que mantém vivo o amor no coração do outro. Ser gentil é matar. É deixar a dor do outro doer em paz.
E já não querer ajudar a cicatrizar com preocupações robóticas que poderiam gerar suspiros falsos de vida. É desejar o bem e não mais voltar se é isso que se deseja por dentro. Ser gentil é conversar, é falar o que se pensa, o que se passa, do começo ao fim, e acima de tudo, ser gentil é saber ouvir.
Ser gentil é ceder um pouco de tempo, um pouco de ouvido, um pouco de palavras, um pouco de ânimo. Ser gentil é sinalizar. É deixar-se conhecer. Gentileza é mostrar os terrenos para que o outro possa escolher se quer pisar.
Ser gentil é um agir antes que sentimentos ruins maiores se instaurem: raiva, rancor, tristeza profunda.
Se você for gentil de carne e osso, você não vai precisar aprender quando ceder o lugar no ônibus, como agir com o funcionário novo da empresa, como sorrir para um novo amigo, como se expressar sobre a comida um tanto estranha de sua nova sogra, como opinar sobre o cabelo novo de seu amigo.
Se você for gentil de carne e osso você vai saber instintivamente como não ser insensato com corações.
Quem é gentil de carne e osso é gentil mesmo quando ninguém está olhando, é gentil com as plantas de casa, é gentil consigo mesmo, no próprio pensamento que aprendeu a não se autojulgar, autosabotar e autopunir tanto e sabe cuidar das próprias dores sem raiva e sabe cultivar os amores sem ansiedade.
Gentileza gera gentileza porque calor humano gera calor humano.
Sejamos gentis de carne e osso!
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fonte: http://thesecret.tv.br/2015/05/gentileza-e-a-gente-deixar-o-outro-ser-de-carne-e-osso/

VIVER SOMENTE, NÃO BASTA!

Todos temos sonhos, projetos, expectativas e perspectivas que, em vários momentos de nossas vidas não podemos realizar – temporariamente – por uma gama infinita de razões. No entanto, os sonhos, os projetos, as expectativas, as perspectivas e o desejo – também o querer – continuam lá e a vontade não murchou como uma velha bola esquecida, apenas espera condições em que poderá ser realmente colocada em campo novamente. Mas diferente disto é não realizarmos nossos sonhos e projetos, não buscarmos mudar algo que nos desagrada, não alterarmos a ordem ou virarmos a mesa, se necessário for, por questões de comodismo, covardia ou medo de sair da zona de conforto na qual estamos e vivemos. A vida é mutável. A vida é pulsante. Há momentos na vida – principalmente se não estamos satisfeitos com o que está a nos acontecer em um ou em diversos âmbitos de nossas vidas – em que precisamos ter coragem, ousadia e até loucura que seja, para mudarmos, para trocarmos de rota de for preciso ou para darmos uma reviravolta. Não dá para maquiarmos a vida para todo o sempre. Depois que as luzes se apagam no “teatro”, a vida continua lá fora, com todos os atos, trocas de figurino, monólogos, diálogos, loucuras, medos, sonhos, aspirações, decisões a tomar, novos sonhos a sonhar, novas perspectivas que estão sempre mudando e é preciso que nos reinventemos sempre para enfrentarmos com coragem os imprevistos e mudar de caminho se for preciso com a mesma beleza, com a mesma graça, com a mesma garra, com a mesma ética, com a mesma dignidade de antes – para quem os possui, naturalmente.
Mas infelizmente a maioria das pessoas querem garantias externas, precisam se aconchegar – mais do que se apegar, mas aconchegar mesmo – à utopia de qualquer forma de segurança, mesmo se esta for um aprisionamento do ser em lugares, situações, coisas e pessoas que não lhe fazem bem e podem até mesmo serem nocivas – como se a vida fosse linear e como se a segurança fosse a garantia de que tudo pode ser como um belo retrato da família feliz na sala de estar. Só que retrato não tem vida, os sorrisos nele são apenas pose e ele fica amarelado com o tempo, assim como essas pessoas que precisam viver na ilusão das garantias caquéticas e da segurança capenga. Até que a vida mostra-se como um sopro e todas as ilusões despencam e caem por terra, muitas vezes sem dar condições nem oferecer opções para essas pessoas saírem de lá – da terra, do chão.
Essas pessoas vivem de coisas e questões externas exatamente porque, para olhar para dentro vai ser preciso muita coragem para ver o que não está bem e fazer as devidas mudanças. Por isso tantas pessoas vivem a mudar quase compulsivamente o exterior. Não que mudar externamente seja um mal em si. Retirando o teor compulsivo, obviamente – e aqui não cabe e vou adentrar-me na conceituação psicanalítica do termo, levando em consideração somente a gramatical, para não estender-me em algo que não é a espinha dorsal do tema em questão – mudança – desde que não seja somente externa – é natural, normal e saudável – em suas conceituações de vida do dia a dia mesmo. Mas o fato recai sobre quem muda o que está externo – muitas vezes de forma exagerada e até compulsiva para não precisar olhar para dentro e mudar o pão bolorento. Ah sim, em maior ou menor grau, todos temos um pouco – ou muito – do pão bolorento dentro de nós. A diferença está entre ter coragem para retirar o bolor ou não e entre ficar se apresentando como a bela viola sem retirar esse bolor de dentro ou não. Essas pessoas que vivem das coisas e questões de fora, vivem a mudar de casa ou fazer reformas na que residem, a mudar os móveis e a decoração constantemente, quase de forma automática, a mudar o carro, a mudar de parceiros freneticamente – possuindo frequentemente também casos extraconjugais – a mudar o cabelo como quem troca de roupa, a mudar o físico com procedimentos estéticos, intervenções cirúrgicas ou até mesmo com anabolizantes, por não darem conta exatamente de mudarem o interior ou, muitas vezes porque o interior está tão degradado, tão feio, tão sujo que o trabalho para a limpeza e mudança seria de proporções estratosféricas e nem todos estão dispostos ou preparados para tal tarefa. Ou porque o interior está vazio e tristemente não há o que mudar, o que renovar. Como mexer em algo que não existe?
Então, as fugas ou as únicas saídas são ficar rodopiando em torno de si mesmo(a) como “João Bobo” e mudar as questões externas, muitas vezes de forma quase ininterrupta. Daí que as mudanças externas trazem a ilusão de transformação – ilusão apenas – pois a real transformação está dentro, é feita por dentro primeiro e é preciso força, coragem, honradez, ética e muita honestidade consigo para realizar um empreendimento tão grandioso – e lembremos que, quem não consegue ter honestidade nem consigo mesmo, fatalmente não conseguirá ter com nenhum outro, embora se consiga fingir e enganar o mundo e a si mesmo(a) por um determinado tempo, que é uma das piores coisas que um ser humano pode fazer a si. Impossível aqui não lembrar da Banda Legião Urbana, sucesso na década de 80, tendo como vocalista Renato Russo que era também compositor, em sua música “Quase sem querer”(1986) – “Como um anjo caído/ Fiz questão de esquecer/ Que mentir pra si mesmo/ É sempre a pior mentira”
Na vida não temos garantias nem segurança. Como nos lembra muito bem Chico Buarque, a vida é uma “roda viva”. A roda gigante da vida gira, rodam os peões, o tempo roda num instante, giram os moinhos de vento e os ventos mudam de direção a todo momento. O que temos é um amontoado de expectativas, anseios, desejos, sonhos, idealizações(boas e ruins), alegrias e tristezas, erros e acertos, conceitos capengas, feridas emocionais, carências, imperfeições, algumas cicatrizes mal e outras totalmente bem curadas, ambivalências e lutas – externas e, principalmente internas. E, quem se dispõe a mais do que viver somente e simplesmente, deve – ou deveria – saber que a compra é feita do pacote completo. É claro que há pessoas que nunca farão nada – por falta de coragem e outras tantas questões pessoais e não pessoais – e também há aquelas que farão de tudo e não necessariamente será bom – para o bem e para o mal. Mas, uma coisa é fato: sempre há o que pode ser feito, sempre há alternativas para mudarmos o que não está de acordo com o que queremos e não combina mais conosco, como aquela roupa que compramos no que hoje se chama “fast fashion” apenas porque era uma modinha passageira e depois nunca mais usamos, porque não combina mais com nada, não combina com quem escolhemos ser pelas nossas transformações. Mudar é difícil e pode ser para muitos complicado, para outros um pouco mais tranquilo, mas para todos, necessário. A vida está em constantes mudanças, a natureza muda sempre, o que vivemos – e o que não vivemos – muda todos os dias. A vida é nova todos os dias.
O caminho que cada um escolhe implica vários fatores, é pessoal e intransferível, mas mudar é e sempre será preciso, principalmente por dentro, de dentro para fora. Sempre há escolhas e atitudes para tomarmos e elas definirão quem somos. Não, não há garantias e nem segurança, mas há sempre possibilidades. Possibilidades de vivências, experiências, aprendizados, crescimento e mudanças, se realmente quisermos fazê-las. Transformar essas possibilidades em potenciais realizações é uma outra questão, que está também ligada ao “quanto” desejamos realmente investir em nós mesmos, nos outros, nas coisas que nos cercam – que nunca são somente coisas – e, principalmente, se queremos mesmo aquilo que desejamos. Mas há um fato imutável, ou seja, mudar é a única questão permanente na vida. A vida é mais, bem mais e muito mais além. E viver somente, não basta.

fonte: http://thesecret.tv.br/2015/05/viver-somente-nao-basta/